Professora Carola, era assim que eu a conhecia, foi minha professora no meu primeiro grau, e foi casada com Karl Friesen, meu primeiro grande mestre na minha vida cristã. Os dois sempre foram um grande referencial de vida cristã e casamento. Fiquei muito triste meses atras quando soube que a Carola estava lutando contra um cancer, e fiquei muito mais impactado na ultima semana quando ela veio a falecer, mesmo nao tendo mais contado, foi um grande baque, pela marca que esse casal deixou em minha vida.
Alguns dias depois de sua morte, Karli, seu marido, publicou na internet esse texto abaixo, que foi uma reflexão que Carola fez nesse periodo. Eu e tantos outros fomos profundamente ministrados, e com autorização do Karli compartilho aqui esse texto. leia e deixe ser ministrado:
Durante o meu primeiro período de quimioterapia recebi um livro chamado “Razão para a Esperança” de Michael S. Barry, médico e capelão no Midwestern Regional Medical Center, em Illinois. O livro faz muitas perguntas como: “Você é esperançoso?” “Você está com medo?” “Deus quer que você viva?” “Você quer viver?” “Por que quer viver? “Você quer lutar por sua vida?”
Num dos capítulos o autor pergunta: “O que você vai fazer de sua vida, se você for curada por Deus? Vale a pena pra Deus curar você?” De que valem os nossos dias se não tem o objetivo de glorificar a Deus? Por que Ele deveria me curar se apenas quero viver para mim e meus prazeres? E isso não inclui apenas os prazeres chamados carnais ou pecaminosos. Falo dos prazeres comuns e simples, de pessoas que acreditam estar apenas fazendo o bem, o bem para si mesmo. Amar seu filho vê-lo sorrindo, há prazer maior para uma mãe? Tirar uma boa nota, ser promovido, namorar, casar, dormir no domingo de chuva e passar férias na praia. Não penso em voto de pobreza, apenas estou sendo desafiada a pensar nas necessidades do meu próximo.
Os meus dias devem ser prazerosos para Deus. Parece-nos um tanto egoísta da parte de Deus, mas não sou propriedade Dele, para Ele, por Ele? Declaramos nossa fé, congregamos numa igreja, sentimo-nos superiores aos que não tiveram um encontro com Cristo e continuamos vivendo apenas para nós mesmos.
Por vezes já questionei os alunos: “Deus ama a todos da mesma forma, por que então eu tenho uma vida tão boa, com tudo de que preciso, enquanto outros, que Deus ama da mesma forma, morrem de fome, doença e na solidão?” Deus me ama mais? Ele quer que eu abra os meus olhos e veja além de mim mesma. Que eu veja a dor e a necessidade do outro, mesmo que não seja agradável e conveniente para mim.
Não é agradável lembrar que cerca de 50% da humanidade passa fome. E como diz Norman Borlaug (Premio Nobel da Paz) “Sem comida, o homem consegue viver por no máximo algumas semanas; sem ela todos os outros componentes da justiça social perdem o sentido.” Importamo-nos de fato com o bem estar de nosso próximo? Fazemos alguma coisa consistente em prol destes 50% de seres necessitados de comida, de Deus, de respeito e de amor?
Amamos o conforto, a alegria de viver em família, de estar com nossos irmãos da igreja, de viajar, até de curtir um dia de sol. Esta é a razão do nosso viver com saúde? Sentimos na pele, quando perdemos a saúde. Lamentamos, sentimos auto-piedade, e gritamos para Deus, perguntando: “por que eu?”.
A Bíblia revela quem nós somos de fato, nos descreve; espelha nossa fragilidade e pequenez; nosso egoísmo, nossa humanidade. Lutar contra o nosso acomodado estado de bem estar, está fora de nossas intenções. Abrir o seio familiar para que alguém (aquele conhecido ou até amigo solitário) faça parte de nosso café com Zwieback, estragaria a nossa tradição, privacidade e identidade.
Abrir mão de nossas férias para doar o dinheiro para quem passa fome iria contra os nossos direitos de trabalhador. Deixar de construir a casa de nossos sonhos e providenciar moradia para um necessitado, nos deixaria inferior ao status de nosso privilegiado grupo, que desfruta de vasta churrasqueira, banheira de hidromassagem e cortinas importadas. Estes prazeres e muitos outros alimentados pelo mundo consumista e hedonista tem tomado conta de nossas vidas. Falamos sobre o mundo globalizado (até os confins da terra) desde que sejamos o centro do universo, não é?
Minha vida é assim! Por que Deus deveria me curar e me dar mais dias de vida? Envergonho-me e choro por ser assim. Ao mesmo tempo em que tenho fé no Deus real capaz de curar e me consolo no seu imenso amor por mim. Deixei de falar Dele para outros que sofrem o mesmo que eu, sem conhecer ao Salvador, por vergonha ou pra não incomodar. Preciso mudar isso muito mais do que ter minha saúde restabelecida. Que o milagre da salvação em Cristo aconteça em mim através da evangelização e ação prática com os necessitados. Que a cura aconteça em minha alma e reverta em força, em atitude diante dos dilemas e problemas desta terra. Terra esta que não é meu lar, mas meu campo de luta. O Criador começou a obra em nós e vai completá-la. Minha oração hoje é de que Deus me fortifique como diz em Isaías 40.29-31. “Faz forte ao cansado e multiplica ao que não tem vigor. Os jovens se cansam e fadigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fadigam.”
Quero abrir os meus olhos, como a águia, e ver a quem posso ajudar. Abrir os braços para abraçar e amar, enxergar-me no espelho da Bíblia e lutar contra minha própria natureza pecadora. Com saúde ou sem ela, desejo permanecer consciente de minha responsabilidade para com meu Criador e com o mundo no qual, hoje, Ele me permite viver.
“Oração de Esperança” “Pai do céu, eu rogo, cura-me. Não porque esse é meu maior interesse, mas porque está em Sua natureza fazer isso. Pois apenas o Senhor é o Grande Médico. Conceda-me a graça de permanecer fiel diante da dor e do sofrimento, da náusea e da preocupação. Se o Senhor me curar, eu O louvarei. Se não for para eu ser curada, eu O louvarei por permitir que minha Luz brilhe até se extinguir e o Senhor me guiar para minha casa eterna. Oro em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: Amém.”
Continuem orando por nossa família!
Carola Schartner Friesen – 2012
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